Para construirmos negócios de sucesso em educação: foque no que não vai mudarLeitura de 10 minutos

Gestão escolar 1 de junho de 2021
Grupo de gestores sentados ao redor de uma mesa na escola

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Para construirmos negócios de sucesso em educação: foque no que não vai mudarLeitura de 10 minutos

Guilherme Cintra
CoCEO do Patio, unidade de negócios da Eleva Educação



Recentemente, me deparei com falas de dois dos homens mais bem sucedidos que já atuaram no mundo de negócios. 


Charlie Munger, parceiro lendário de Warren Buffet, nos diz que precisamos sempre aprender e construir uma “colcha de retalho” de modelos mentais que utilizamos para nossas tomadas de decisão. Um dos que mais utiliza é o da inversão. 


Para Charlie Munger, quando pensamos em problemas complexos, inverter facilita muito o raciocínio. Em uma de suas falas, dá um exemplo que apenas um homem de muita experiência poderia nos oferecer. Ele foi meteorologista durante a Segunda Guerra Mundial. Entendeu que seu objetivo era permitir que aviões conseguissem aterrissar de forma adequada. 


Ao invés de pensar: “como garanto que pilotos aterrissem bem?”, usando o processo de inversão pensou: “como garantir que eu mate muitos pilotos?”. Essa questão é mais óbvia: faça com que voem sempre por locais de difícil aterrissagem, por exemplo, cobertos por gelo, até que ou tentem aterrissar e explodam ou não possam e acabe o combustível. Com isso, passou a direcionar seu processo de previsão do tempo para garantir que entendesse sempre como garantir que essas condições nunca fossem encontradas por pilotos. 


Já Jeff Bezos, fundador da Amazon, tem uma regra para pensar em negócios que terão sucesso em longo prazo. Ao invés de focar no que vai mudar nos próximos 10 anos, foca no que não vai mudar. É por isso que a missão da Amazon é focada em oferecer a maior quantidade de produtos possível, entregues rápido e com preços baixos. Variedade, agilidade e preço são fatores que os consumidores sempre irão buscar. 


Em educação, ao pensarmos em inovação, temos o hábito de reclamar. “Nossa, o setor é conservador”, “ninguém quer mudar”. Existem motivos relevantes para isso que precisamos respeitar. Mas isso é para outro texto. 


Por hoje, quero apenas reforçar um ponto: ao invés de enxergarmos isso como um problema, ao escutarmos Charlie Munger e Jeff Bezos, podemos entender que temos uma super oportunidade em mãos. Ao entender o que não irá mudar poderemos construir negócios duradouros. E a partir destes, poderemos efetivamente mudar o sistema educacional.


Então, o que não irá mudar? 


1) Educadores vão querer gastar menos tempo fora de atividades educacionais 


Ao conversarmos com qualquer professor, entendemos que existe um tempo enorme que os professores não estão fazendo o que mais amam e o que é mais produtivo: ensinar. 


Burocracias, atividades repetitivas, deslocamento… tudo isso tira o foco do que mais importa. 


Portanto, ao desenvolver novos negócios em educação, nunca construa algo que aumentará o tempo gasto pelo educador em atividades não educacionais. 


Usando o processo de inversão, buscando melhorar a experiência educacional podemos pensar: o que dificultará os alunos aprenderem? Sem dúvidas, aumentar o tempo gasto com atividades não educacionais é um desses elementos. Ajuda a tornar o educador mais mal humorado, desvia sua atenção do que importa, gasta recursos importantes. Simplifique e otimize a rotina, sempre. 


Saiba como otimizar o tempo do seu professor


O que pode ajudar nesse sentido? Inteligência artificial bem utilizada é um exemplo. Existem muitos maus exemplos de “inteligência artificial” utilizada como modismo e temos que tomar cuidado para não sermos enganados. Mas foquemos em um bom exemplo. 


A Pontue, empresa focada na evolução da escrita dos alunos, em parceria com uma empresa especialista no tema, conseguiu por meio de algoritmos reduzir o tempo de correção de uma redação de 8 minutos para apenas 2. Isso permite que os corretores não só foquem no que mais importa (coerência e coesão do texto, argumentação…) e não em processos facilmente automatizáveis (por exemplo, gramática), como produzam vídeos individualizados para os alunos, criando uma camada social de interação. 


É o que permite uma maior retenção do aprendizado. Os relatórios de correção ficam mais completos, permitindo também aos professores que estão na sala de aula trabalharem os pontos focais necessários para o maior desenvolvimento dos alunos. 


Atividades que otimizam o tempo


O ponto da distinção entre os “professores de sala” e os corretores como mostrado acima traz outro aspecto: a especialização. A atividade educacional é composta por uma série de atividades. Criar conteúdo, dar aula, corrigir atividades, fazer relatórios de acompanhamento… ao pensar em modelos que permitem otimizar cada etapa da jornada do educador e especializar profissionais em diferentes etapas, criamos um processo mais eficiente. 


Um exemplo de uma atividade que pode se beneficiar desse processo é a curadoria de conteúdos. Com a profusão de conteúdos educacionais essa é cada vez mais uma realidade. Há de se separar o joio do trigo e se organizar. Mas nem todo educador gosta ou mesmo é proficiente nesse processo. Nem sempre o ator é o roteirista. 


Por algum motivo, no entanto, quando pensamos na autoria de conteúdo, muitas vezes vamos para um de dois extremos: ou o professor é um autômato apenas reproduzindo conteúdos entregues ou todos os professores precisam criar conteúdos próprios. Um meio termo potencial é a especialização. 


Cada vez mais temos ferramentas surgindo que permite que educadores desenvolvam conteúdos excelentes, mais adaptados a realidades locais e flexíveis. Alguns educadores terão mais facilidade e gosto por desenvolver essas experiências educacionais, enquanto outros podem focar mais em reproduzir essas experiências com excelência em sala de aula, acrescentando seu próprio toque. 


Ao longo dos anos, essas experiências podem ser melhoradas, readequadas, atualizadas de forma organizada e, portanto, mais eficiente. 


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É importante notar, no entanto, que essa especialização deve agir em prol de uma colaboração no processo de aprendizagem. Isso significa que não devemos alienar educadores de etapas das quais não participam e sim otimizá-las. 


No exemplo de uma correção de redação, o fato de o professor de sala não corrigir, não significa que não deva analisar e receber relatórios que facilitem seu processo educacional. É ao focar no que importa que conseguimos extrair o melhor que cada educador tem a oferecer para nossos alunos.


2) Educação será sempre social 


Se alguém tinha dúvidas, a pandemia, espero, enterrou de uma vez por outra qualquer visão de que é possível educar sem levar em consideração a sociabilização do aluno. E isso, independente de segmento. 


Um dos pontos é que, cada vez mais, entendemos que elementos como colaboração são fundamentais para o profissional atual. Tanto que desde 2016 a OCDE, por meio do PISA, avaliação que compara sistemas educacionais ao redor do mundo, aplica uma avaliação de Resolução Colaborativa de Problemas. 


Mas além disso, somos seres sociais. Desde sempre. Evolutivamente falando, somos movidos por interações, prestamos atenção em outros seres humanos. Usando novamente o elemento da inversão, se quisermos garantir que uma criança não se desenvolva, garantamos que ela se mantenha isolada de seres humanos. 


Duas alunas sorrindo em atividade na sala de aula com professor. Ao lado, o texto: 7 passos essenciais para ser uma escola presente. Baixe gratuitamente

Ferramentas de engajamento


Faz pouco sentido tentar lutar contra nossa natureza social. Ao invés disso, podemos abraçá-la e desenvolver ferramentas que utilizem nossas características que clamam por sociabilização de modo a desenvolver conhecimento e habilidades não cognitivas. 


A Agenda Edu, aplicativo que dentre outras funcionalidades possui uma ferramenta entre escola e família é um exemplo disso. Ao conseguir organizar as interações tornando mais harmônicas as trocas entre os diferentes agentes envolvidos no processo educacional, consegue efetivamente fazer, como diria o provérbio, trazer a aldeia para trabalhar em prol da educação das crianças. 


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Além disso, comunidades de aprendizagem trazem formatos diversos de colaboração. Um bom caso é a comunidade criada no entorno do Scratch, linguagem de programação criada pelo MIT Media Lab para ensinar crianças. Ela permite que crianças desenvolvam jogos, experiências próprias e as compartilhem com os outros. 


Existem trocas constantes e as crianças desenvolvem juntas não só aprendizados diretamente relacionados a programação como habilidades fundamentais no mundo atual. Ao discutirem em fóruns no entorno de atividades que as interessam, aprendem a colaborar em prol da aprendizagem e de objetivos comuns.


3) Buscaremos sempre ferramentas com a melhor usabilidade 


Alguém imagina uma pessoa buscando proativamente a ferramenta com a usabilidade mais desagradável possível? Pois é… no entanto ainda temos muitas ferramentas educacionais que esquecem do aspecto fundamental da usabilidade. 


Esse é um dos motivos que leva a uma utilização baixíssima de boa parte das soluções tecnológicas educacionais. Precisamos, portanto, começar a entender melhor a jornada de nossos usuários: alunos, responsáveis, professores, educadores em geral, para atender melhor suas necessidades. 


Um dos pontos que mais temos focado no Patio, área de desenvolvimento de novos negócios da Eleva Educação, é a interoperabilidade de nossas ferramentas. O que isso significa? Significa que um usuário não precisará ter 20 logins para usar nossas ferramentas. Ao invés disso, de posse de um login único será capaz de acessar todo o seu ferramental e navegar de forma simples por ele. Futuramente, permitirá o uso de dados de forma simplificada. 


Ao entender que o uso de dados é fundamental, também passamos a entender a necessidade de facilitar a leitura destes. Na Luppa, nossa empresa de avaliações, gastamos muito tempo pensando em como desenvolver os painéis de dados mais simples possível para que alunos e educadores possam ter devolutivas adequadas.


Já no caso das escolas próprias da Eleva, é usada uma ferramenta chamada Módulo de Gestão Pedagógica. Nela estão dados relativos a notas, faltas, atrasos, ocorrências, anotações sobre o aluno, o que você imaginar. 


Ao pensar na usabilidade dessa ferramenta, o teste utilizado foi entender se o educador seria capaz de contar uma história em 2 minutos. Sem um foco estrito em usabilidade isso seria impossível. 


O fato é que, hoje em dia, milhares de alunos são atendidos todos os dias utilizando esse painel, gerando um círculo virtuoso que leva as escolas a compreenderem melhor seus alunos por meio de dados e utilizarem mais a ferramenta, gerando uma escola cada vez mais humana. Mais social. E que gasta menos o tempo dos nossos educadores com busca de informações no meio de milhares de papéis soltos.


Então, vamos recapitular


Recapitulando. Temos pelo menos três elementos que sabemos que não irão mudar: 


  1. Educadores irão querer gastar menos tempo em atividades que não são educacionais 
  2. Educação será sempre social 
  3. Buscaremos sempre ferramentas com melhor usabilidade 

Cabe a nós, ao entendermos isso, construirmos ferramentas e experiências atemporais que valorizem o que realmente importa na educação. 


Fica, portanto, o convite: o que você acha que não irá mudar em educação nos anos a seguir? É somente ao entendermos isso que conseguiremos ser pedagógicos sobre nossas mudanças e apoiar a evolução das experiências educacionais de nossos alunos.


         
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