Conhecendo a dificuldade de aprendizagem e o papel da escolaLeitura de 7 minutos
Danielle Gonzaga
Pedagoga e assessora de Implantação da Agenda Edu
O debate sobre a universalização da educação nunca esteve tão presente no contexto educacional. É certo que existem inúmeras demandas emergentes em um cenário tão complexo quando diz respeito não somente a realidade escolar, mas a vida em sociedade de maneira geral. Nesse cenário é fácil se deparar com uma dificuldade de aprendizagem.
No entanto, a escola segue, mesmo com inúmeras barreiras, transformações constantes e identificando diferentes desafios na aprendizagem, com seu papel de integrar educandos de diferentes realidades ao ambiente escolar, propiciando a interação com o outro, o desenvolvimento cognitivo e, consequentemente, uma educação integral.
Mas o que fazer para lidar com os diferentes ritmos de desenvolvimento? Como acolher e tratar as dificuldades de aprendizagem identificadas no cotidiano escolar?
Conceituando o termo: dificuldade de aprendizagem
De acordo com o site oficial da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), dificuldade de aprendizagem pode ser conceituada como:
“Algum prejuízo, atraso e/ou desordem na apreensão de comandos e informações em geral, as quais podem ter as suas origens em fatores diversos e podem estar ligadas a certos comprometimentos no cérebro, mas não têm todas as suas origens na ordem biológica. Em alguns casos, suas origens podem advir de conflitos pessoais, culturais e sociais. Vale ressaltar que ter dificuldade de aprender não significa que o aluno não aprenda, pois todas as pessoas são capazes de aprender.”
No entanto, é preciso ficar atento à definição. Por vezes, é notável uma confusão entre os termos dificuldades de aprendizagem e transtorno de aprendizagem. Vamos entender melhor essa diferença?
Transtorno ou dificuldade de aprendizagem?
A dificuldade de aprendizagem pode ser considerada uma condição temporária, ocasionada por fatores externos e que podem impactar negativamente o processo de aprendizagem. Podemos citar como exemplos: questões emocionais, problemas familiares, alimentação inadequada e ambiente desfavorável.
? Ponto de alerta: com a pandemia de COVID-19 e instauração de um ensino remoto emergencial, é possível que casos de dificuldade de aprendizagem sejam ainda mais evidentes, considerando que nem todos as crianças possuíam condições favoráveis para seguir com suas atividades nesse contexto. O luto também é um fator significativo nesse cenário.
Quando as dificuldades de aprendizagem são persistentes e acompanham o histórico da criança por um longo período de tempo, sem motivos evidentes e em várias áreas de seu desenvolvimento, é possível que existam comprometimentos de ordem neurológica (transtorno de aprendizagem).
Os transtornos de aprendizagem podem ser definidos como uma condição neurológica, não mais atribuída a fatores externos, mas internos, que afetam o processo de aprendizagem. Diferente da dificuldade de aprendizagem, o transtorno específico da aprendizagem é persistente. Podemos citar a dislexia como sendo um dos distúrbios mais diagnosticados por especialistas.
O principal elemento de diferenciação entre os dois conceitos é sua origem, considerando que a dificuldade de aprendizagem tem sua raiz em problemas socioculturais e pedagógicos.
Mas como acolher e tratar dificuldades de aprendizagem identificadas no cotidiano escolar?
É preciso estar atento: como mencionado no início da nossa discussão, as dificuldades de aprendizagem trazem impactos, mas não impossibilitam o avanço da aprendizagem da criança. Por isso, quanto mais precoce a identificação dessas dificuldades, melhor. Nesse sentido, os professores possuem papel fundamental no diagnóstico das lacunas que possam existir em seu contexto. Conseguir intervir cedo aumenta as chances de sucesso na escola e, consequentemente, na sua vida em sociedade.
Identifiquei. E agora? Com ajuda de uma equipe multidisciplinar e da família, a escola pode desenvolver caminhos e novas estratégias para lidar com as especificidades do educando. Jamais deixe de reforçar com TODA a comunidade escolar: os alunos com dificuldade de aprendizagem não são incapazes de aprender.
Avalie com propósito: As avaliações realizadas na escola possuem um papel muito maior do que apenas atribuir uma nota ao discente. Elas devem oferecer insumos para que os profissionais de sala de aula possam identificar as principais dificuldades e queixas apontadas pelos alunos no processo de aprendizagem. Invista na realização de tarefas em grupo, simulados e outras atividades que sejam significativas nesse processo.
Nenhum aluno fica para trás: Na execução do plano de aula, jamais permita que algum aluno fique isolado ou se distancie do grupo por qualquer motivo que seja. Isso pode gerar uma frustração em não conseguir seguir o ritmo dos demais colegas. Para isso, crie uma aula envolvente, com ganchos com a realidade e interesse manifestados pelos alunos e com um material que seja atrativo e que possa ser acessado por todos.
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O trabalho em duplas também é uma excelente estratégia para integração e aprendizagem em pares.
Ou seja, é papel de TODA A COMUNIDADE ESCOLAR, não somente do professor, adaptar metodologias e o ambiente escolar para oferecer um espaço acolhedor e que favoreça a troca de aprendizagens, buscando oferecer dinamicidade e inovação em todos os locais que integram o ambiente escolar, envolvendo as crianças em atividades lúdicas e adotando ferramentas tecnológicas como apoio ao ensino e acesso à informação.
O objetivo é fazer com que o aluno em parceria com sua família, colegas e educadores possam enxergar o discente sob a ótica de suas potencialidades, além de acolher e trabalhar em suas barreiras.
E você? Conhecia a diferença entre esses dois conceitos?
Que práticas pedagógicas aplica para tratar com as dificuldades de aprendizagem?
Referências:
Congresso Internacional de Educação
Site oficial – Base Nacional Comum Curricular